Se
tem um assunto polêmico é aquele que gira em torno da maconha, uma planta herbácea considerada uma droga ilícita que
pode causar dependência. Ela é utilizada à milênios , seja para a fabricação de
objetos como corda ou papel, bem como entorpecente. Este post não tem a
intenção de incentivar o seu uso, apenas iremos conhecer um pouco mais dessa
planta presente na vida de muitas pessoas.
A PLANTA
A Cannabis (aportuguesado como canabis ou canábis), também conhecida por vários
nomes populares, refere-se a várias drogas psicoativas e medicamentos derivados de plantas do gênero Cannabis.
Ela é uma planta herbácea de clima quente e úmido. A maconha
(Cannabis sativa)
pertence à família Moraceae e pode atingir até 5 metros de altura. Possui
folhas digitadas e flores pequenas, amarelas e sem perfume. É uma planta dioica
que apresenta talos com flores femininas e talos com flores masculinas. O fato
de a planta possuir talos com flores diferentes influencia na colheita, pois as
flores masculinas endurecem mais rápido, morrendo após a floração, enquanto que
as inflorescências femininas permanecem com uma cor verde-escura até um mês
após a floração, quando as sementes amadurecem.
Quando não ocorre fecundação das flores femininas, elas
excretam grandes quantidades de resina pegajosa composta por dezenas de
substâncias diferentes. O fruto da maconha é amarelo-esverdeado, pequeno,
ovalado e contém uma substância ácida que serve de alimento para algumas espécies
de aves.
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Planta da Maconha |
A forma herbácea da droga consiste de flores e folhas maduras que subtendem das plantas pistiladas femininas. A formar esinosa, conhecida
como haxixe, consiste
fundamentalmente de tricomas glandulares coletados do mesmo material vegetal. A cannabis é frequentemente consumida por seus
efeitos psicoativos e fisiológicos que podem incluir bom humor, euforia,
relaxamento e aumento do apetite. o principal constituinte
psicoativo desse tipo de planta é o tetrahidrocanabinol (THC), um dos 400 compostos da planta,
incluindo outros canabinoides, como o canabidiol (CBD), canabinol (CBN) e tetrahidrocanabivarin (THCV).
UM POUCO DE HISTÓRIA
A Cannabis é uma espécie nativa da Ásia
Central e Meridional.Evidências da inalação de
fumaça de cannabis são encontradas desde o terceiro milênio a.C., como indicado
por sementes carbonizadas de cannabis encontradas em um braseiro usado em
rituais em um antigo cemitério na atual Romênia.
Em 2003, uma cesta de couro cheia de fragmentos de folhas e sementes de cannabis foi encontrada ao lado do corpo mumificado de um xamã de
2500-2800 anos de idade em Xinjiang,
no noroeste da China.
A planta também é conhecida por ter sido usada pelos antigos hindus da Índia e do Nepal há milhares de anos. A cannabis também era conhecida pelos antigos assírios, que descobriram as suas
propriedades psicoativas através dos povos
arianos. A planta também foi introduzida pelos arianos aos povos citas, trácios e dácios,
cujos xamãs (que eram conhecidos como kapnobatai, "aqueles que andam no
fumo/nuvens") queimavam flores de cannabis para alcançar um estado de transe.
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A deusa egípcia Seshat representada com uma folha de maconha sobre a cabeça. |
Sementes de cânhamo descobertas por arqueólogos em Pazyryk
(um conjunto de tumbas encontradas nas Montanhas
Altai, na Sibéria) sugerem que
práticas cerimoniais antigas, como comer sementes, foram usadas pelos citas e ocorreram durante os séculos quinto
e segundo a.C., confirmando relatos históricos anteriores feitos por Heródoto. O escritor Chris
Bennet afirma que a cannabis era usada como um sacramento religioso
por judeus antigos e pelos primeiros cristãos, devido
à semelhança entre a palavra hebraica "qannabbos"
("cannabis") e a frase hebraica "qené bosem"
("cana aromática"). A erva também foi usada por muçulmanos de várias ordens sufistas no período mameluco, como, por exemplo, os qalandars.
A CHEGADA NAS AMÉRICAS E NO BRASIL
O cultivo da planta foi difundido pelo Oriente Médio, Europa e outras
regiões da Ásia. Na renascença, a maconha era um dos principais produtos da
Europa; os livros de Johannes Gutemberg, o inventor da imprensa, eram feitos de
papel de cânhamo.
A maconha foi levada para a África e para a América pelos
europeus. Na América do Sul, as primeiras plantações da Cannabis sativa foram
feitas no Chile, pelos espanhóis. No Brasil, a mesma foi trazida pelos escravos
africanos.
De uma certa maneira, a história do Brasil está intimamente
ligada à planta Cannabis
sativa L., desde a chegada à
nova terra das primeiras caravelas portuguesas em 1500. Não só as velas, mas
também o cordame daquelas frágeis embarcações, eram feitas de fibra de cânhamo,
como também é chamada a planta. A planta propriamente dita teria sido
introduzida em nosso país, a partir de 1549, pelos negros escravos, como alude
Pedro Corrêa, e as sementes de cânhamo eram trazidas em bonecas de pano,
amarradas nas pontas das tangas.
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Ilustração do transporte de maconha por escravos negros. |
No século XVIII passou a ser preocupação da Coroa portuguesa
o cultivo da maconha no Brasil. Mas ao contrário do que poderia se esperar, a
Coroa procurava incentivar a cultura da Cannabis:
"aos 4 de agosto de 1785 o Vice-Rei
(...) enviava carta ao Capitão General e Governador da Capitania de São Paulo
(...) recomendando o plantio de cânhamo por ser de interesse da Metrópole (...)
remetia a porto de Santos (...) dezesseis sacas com 39 alqueires de sementes de
maconha..."
Com o passar dos anos o uso não-médico da planta se
disseminou entre os negros escravos, atingindo também os índios brasileiros,
que passaram inclusive a cultivá-la para uso próprio. Pouco se cuidava então
desse uso, dado estar mais restrito às camadas socioeconômicas menos
favorecidas, não chamando a atenção da classe dominante branca. Exceção a isso
talvez fosse a alegação de que a rainha Carlota Joaquina (esposa do Rei D. João
VI), enquanto aqui vivia, teria o hábito de tomar um chá de maconha.
Na segunda metade do século XIX esse quadro começou a se
modificar, pois ao Brasil chegaram as notícias dos efeitos hedonísticos da
maconha, principalmente após a divulgação dos trabalhos do Prof. Jean Jacques
Moreau, da Faculdade de Medicina da Tour, na França, e de vários escritores e
poetas do mesmo país. Mas foi o uso medicinal da planta que teve maior
penetração em nosso meio, aceito que foi pela classe médica.
EFEITOS DA MACONHA NO ORGANISMO
Embora
do ponto de vista científico não esteja claro que a maconha possa
provocar dependência química, não existe consenso popular da existência ou não
dessa dependência. Muitos defendem tratar-se de uma droga que não vicia e que a
dependência é meramente psicológica. Outros asseguram que vicia sim e, por
isso, deve ser mantida na ilegalidade.
Os efeitos do uso da maconha no
organismo podem variar de acordo com as características do usuário, com seu
estado de espírito, com o ambiente em que ocorre o consumo e também com as
características da droga.
O fato é que a fumaça
é aspirada, cai nos pulmões que a absorvem rapidamente. De seis a dez segundos
depois, levados pela circulação, seus componentes chegam ao cérebro e agem
sobre os mecanismos de transmissão do estímulo entre os neurônios, células
básicas do sistema nervoso central. Os neurônios não se comunicam como os fios
elétricos, encostados uns nos outros. Há um espaço livre entre eles, a sinapse,
onde ocorrem a liberação e a captação de mediadores químicos. Essa transmissão
de sinais regula a intensidade do estímulo nervoso: dor, prazer, angústia,
tranquilidade.
As
drogas chamadas de psicoativas interferem na liberação desses mediadores
químicos, modulam a quantidade liberada ou fazem com que eles permaneçam mais
tempo na conexão entre os neurônios. Isso gera uma série de mecanismos que
modificam a forma de enxergar o mundo.
A maconha promove, de maneira geral,
uma diminuição da atividade motora, fazendo com que a pessoa se movimente menos
e possa chegar a um estado de sonolência. Porém, dependendo da dose de
tetrahidrocanabinol (THC) a reação também pode ser oposta, levando a uma
sensação de euforia e intensificação dos movimentos.
Principalmente em pessoas que usam a
droga pela primeira vez, pode haver um aumento da frequência cardíaca. Não
chega a ser um efeito que pode levar a um infarto, por exemplo, mas é um
aumento muito evidente. A pessoa pode se sentir incomodada e ansiosa, e isso
pode ser um risco no caso de indivíduos que tenham histórico pessoal ou
familiar de transtorno de ansiedade ou pânico.
Assim como a maconha provoca a
diminuição da atividade motora, também leva a uma diminuição da temperatura
corporal, que configura um quadro de hipotermia. Ela pode ainda estimular o
sistema digestivo e aumentar o apetite. Boca seca e olhos avermelhados também
são alguns dos efeitos observados após o uso.
Quanto aos efeitos no humor do usuário,
a droga tanto pode provocar relaxamento e calma quanto uma sensação de
ansiedade e angústia. Novamente, isso depende das características do usuário e
da substância. Maconha com maior concentração de THC tende a induzir reações de
ansiedade com maior frequência, em comparação com a maconha com menor
concentração de THC. Quando o usuário tem histórico médico de ansiedade, os
riscos de a droga despertar emoções negativas são maiores.
O cigarro de maconha contém muitos dos
componentes também presentes no cigarro de tabaco comum. Segundo algumas
pesquisas, o uso intenso por longos períodos (mais de 10 anos) esteve associado
a um declínio da capacidade pulmonar. Porém, o uso moderado, por até 7 anos,
não causou grandes prejuízos aos pulmões, diferentemente do que foi constatado
em fumantes comuns que, com a mesma frequência de uso, já apresentavam fortes
efeitos adversos.
A maconha prejudica principalmente a
memória de curto prazo e também a chamada memória de trabalho. São efeitos
transitórios, principalmente durante o uso. Mas, se pensarmos que uma pessoa
usa a droga todos os dias, vai estar o tempo todo sob esse efeito prejudicial e
não vai reter informações. Depois de 28 dias sem usar a substância, as funções
de memória e cognição voltam a ficar estabilizadas.
A MACONHA E A MEDICINA
O conhecimento a respeito da neurobiologia da maconha vem
mudando dramaticamente na última década. Foram descobertos dois tipos de
receptores (estruturas orgânicas que se ligam aos componentes químicos da
maconha e permitem sua ação dentro das células), que receberam o nome de CB1 e
CB2, estes se localizam principalmente no cérebro e nas células do sistema
imune.
Dentro do cérebro, estes receptores estão concentrados no
sistema límbico, no córtex cerebral, no sistema motor e no hipocampo. Essas
localizações explicam, em parte, os sintomas provocados pela maconha, como as
alterações do estado mental, as mudanças de humor e as alterações da
coordenação motora.
Evidências de pesquisas em animais e em homens indicam que a
maconha pode produzir um efeito analgésico importante. Porém, mais estudos
devem ser feitos para estabelecer a magnitude e a duração deste efeito, nas
diversas condições clínicas. Os pacientes que poderiam ser beneficiados com o
uso dessa droga seriam aqueles em uso de quimioterapia, em pós-operatório, com
trauma raquimedular (lesão da coluna vertebral com acometimento da medula), com
neuropatia periférica,
em fase pós-infarto cerebral, com AIDS, ou com qualquer outra condição clínica
associada a um quadro importante de dor crônica.
Muitos oncologistas e pacientes defendem o uso da maconha, ou
do THC (seu principal componente já estudado) como agente antiemético. Mas
quando comparada com outros agentes, a maconha tem um efeito menor do que as
drogas já existentes. Contudo, seus efeitos podem ser aumentados quando
associados com outros antieméticos. Dessa maneira, o uso da cannabis na
quimioterapia pode ser eficiente em pacientes com náuseas e vômitos não controlados com outros
medicamentos.
Os estudos sobre os efeitos da maconha sugerem que esta droga
pode ser importante no tratamento da desnutrição e
da perda do apetite em pacientes com AIDS ou câncer. Mas outros medicamentos
são mais efetivos do que a maconha, portanto, os autores recomendam pesquisas
mais aprofundadas para avaliar a ação da maconha nesses pacientes.
Como já foi dito anteriormente, a maconha afeta o movimento,
e estudos tem demonstrado que ela pode ajudar no controle do espasmo muscular (encontrado na esclerose múltipla ou no traumatismo raquimedular). Mas as pesquisas que avaliaram essa
capacidade da maconha devem ser analisadas com cuidado, uma vez que, outros
sintomas associados a estas doenças, como a ansiedade, podem aumentar os
espasmos, e nesse caso, a maconha poderia ter sua ação diminuindo a ansiedade e
não controlando o espasmo propriamente dito.
Estudos em animais demonstram que o uso da maconha pode
estimular os movimentos em doses baixas e pode inibi-los em doses altas. Esta
característica pode ser importante para o desenvolvimento de tratamentos para
as desordens motoras na doença de Parkinson. Os autores acreditam que novos
estudos devem ser feitos para avaliar a quantidade exata da droga que pode ser
eficiente no tratamento dessa condição.
O principal objetivo do tratamento da epilepsia é impedir completamente as crises. Os estudos a
esse respeito ainda estão se iniciando, e muitas vezes as crises não foram
inibidas com o uso da maconha, portanto, os autores acreditam que pesquisas com
pessoas ainda não devem ser indicadas.
EFEITOS ADVERSOS DO USO DA MACONHA
Os efeitos adversos da cannabis podem ser divididos em duas
categorias: os efeitos do hábito de fumar crônico e os efeitos do THC. O fumo
crônico da maconha provoca alterações das células do trato respiratório, e
aumentam a incidência de câncer de
pulmão entre os usuários. Os efeitos associados ao longo tempo de exposição ao
THC são a dependência dos efeitos psicoativos e a síndrome de
abstinência com a cessação do uso. Os sintomas da síndrome de
abstinência incluem agitação, insônia, irritabilidade, náusea e cãibras.
Alguns autores sugerem que a maconha é uma porta de entrada
para outras drogas ilícitas. Mas ainda não existem estudos científicos que
comprovem essa hipótese. E outras drogas como o tabaco e o álcool, na verdade,
são as primeiras drogas a serem usadas antes da maconha.
CRIMINALIZAÇÃO
Napoleão
Bonaparte criou a primeira lei proibindo a Cannabis, Isso aconteceu quando o
general francês conquistou o Egito em 1798. Napoleão alegava que, ao consumir o
produto, os egípcios ficavam mais violentos. Três décadas depois, em 1830, o Brasil também se tornaria pioneiro no assunto,
quando a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por meio do Código de Posturas
Municipais, criou restrições ao comércio e ao consumo do “pito do pango”,
expressão usada para definir a cannabis à época.
No
início do século 20, vários países criaram leis proibindo o consumo e o
comércio da cannabis, entre eles: África do Sul, Jamaica (na época colônia
inglesa), Reino Unido, Nova Zelândia, Brasil e principalmente, os Estudos
Unidos.
A guerra contra essa planta foi motivada muito mais por
fatores raciais, econômicos, políticos e morais do que por argumentos
científicos. E algumas dessas razões são inconfessáveis. Tem a ver com o
preconceito contra árabes, chineses, mexicanos e negros, usuários frequentes de
maconha no começo do século XX. Deve muito aos interesses de indústrias
poderosas dos anos 20, que vendiam tecidos sintéticos e papel e queriam se
livrar de um concorrente, o cânhamo. Tem raízes também na bem-sucedida
estratégia de dominação dos Estados Unidos sobre o planeta. E, é claro, guarda
relação com o moralismo judaico-cristão (e principalmente
protestante-puritano), que não aceita a ideia do prazer sem merecimento – pelo
mesmo motivo, no passado, condenou-se a masturbação.
Nas primeiras décadas do século XX, a maconha era liberada,
embora muita gente a visse com maus olhos. Aqui no Brasil, maconha era “coisa
de negro”, fumada nos terreiros de candomblé para facilitar a incorporação e
nos confins do país por agricultores depois do trabalho. Na Europa, ela era
associada aos imigrantes árabes e indianos e aos incômodos intelectuais
boêmios. Nos Estados Unidos, quem fumava eram os cada vez mais numerosos
mexicanos, meio milhão deles cruzaram o Rio Grande entre 1915 e 1930 em busca
de trabalho. Muitos não acharam. Ou seja, em boa parte do Ocidente, fumar
maconha era relegado a classes marginalizadas e visto com antipatia pela classe
média branca.
Em 1920, sob pressão de grupos religiosos protestantes, os
Estados Unidos decretaram a proibição da produção e da comercialização de
bebidas alcoólicas. Era a Lei Seca, que durou até 1933. A proibição do
álcool foi o estopim para o ‘boom’ da maconha, Na medida em que ficou
mais difícil obter bebidas alcoólicas e elas ficaram mais caras e piores,
pequenos cafés que vendiam maconha começaram a proliferar.
Mas nem tudo ia bem para os usuários, pois no sul do país corria
o boato de que a droga dava força sobre-humana aos mexicanos, o que seria uma
vantagem injusta na disputa pelos escassos empregos. A isso se somavam
insinuações de que a droga induzia ao sexo promíscuo e ao crime. Baseados
nesses boatos, vários Estados começaram a proibir a substância. Nessa época, a
maconha virou a droga de escolha dos músicos de jazz, que afirmavam ficar mais
criativos depois de fumar.
Diante desse cenário temos que levar em conta a figura de Anslinger,
chefe da política antidrogas dos Estados Unidos. Ele era casado com a sobrinha
de Andrew Mellon, dono da gigante petrolífera Gulf Oil e um dos principais
investidores da igualmente gigante Du Pont. A Du Pont foi uma das maiores
responsáveis por orquestrar a destruição da indústria do cânhamo. Nos
anos 20, a empresa estava desenvolvendo vários produtos a partir do petróleo:
aditivos para combustíveis, plásticos, fibras sintéticas como o náilon e
processos químicos para a fabricação de papel feito de madeira. Esses produtos
tinham uma coisa em comum: disputavam o mercado com o cânhamo.
Seria um empurrão considerável para a nascente indústria de
sintéticos se as imensas lavouras de cannabis fossem destruídas, tirando a
fibra do cânhamo e o óleo da semente do mercado. A maconha foi proibida por
interesses econômicos, especialmente para abrir o mercado das fibras naturais
para o náilon, e por nenhum outro motivo.