sábado, 9 de maio de 2015

A CIÊNCIA PODE EXPLICAR A HOMOSSEXUALIDADE?

Tempos atrás eu escrevi um post sobre a homossexualidade sob a ótica da ciência. Fiquei muito feliz na época, pois foi uma postagem com mais de 3.000 visualizações e, nos mais de 100 comentários tivemos a oportunidade de debater de forma bastante produtiva.

O grande problema que vejo é que ainda temos que debater sobre a homossexualidade. Vejo como um problema porque, na minha humilde opinião, isso de ficar questionando se é certo ou errado me parece coisa de país não desenvolvido como o nosso. O Brasil é o maior país católico do mundo, e por aqui há uma imensa proliferação de igrejas evangélicas, que, com todo respeito, com essa visão quase medieval, se esquecem de olhar para o futuro, e continuam a rotular o homossexual como uma aberração.

Antes de entrar no mérito da questão gostaria de fazer um comentário aqui. Não é possível que pessoas usem a ciência de maneira totalmente equivocada para embasar as suas crenças. Muita gente teve a oportunidade de ver na TV a reportagem do pastor Silas Malafaia no programa da jornalista Marília Gabriela. Pois é, tal pastor usa a ciência para dizer que a homossexualidade é apenas comportamental, ou provocada por algum trauma de infância. Para isso ele diz se embasar em estudos genéticos, pois a ciência não tem nenhuma evidência da existência de um gene que causaria a homossexualidade. Por outro lado, como ele é um defensor do criacionismo, ele diz que a Teoria da Evolução é apenas um teoria devido ao fato dela não poder ser observada na prática. Ora, sendo assim devemos esquecer todos os estudos da paleontologia, devemos desconsiderar todos os fósseis, estudos genético e moleculares que provam a ocorrência da Evolução das Espécies. Usar a ciência sem nenhuma responsabilidade é muito perigoso e antiético, ainda mais vindo de um psicólogo como ele. 

A PESSOA JÁ NASCE HOMOSSEXUAL?

Bem, estamos diante de um mistério para a ciência. O tal gene homossexual nunca foi encontrado, mas alguns cientistas não desistem de encontrar uma causa biológica. No século 19, psiquiatras concluíram que a homossexualidade era um transtorno mental causado por equívocos na criação da criança, e essa ideia reinou na maior parte do século 20. Sendo assim seria possível evitar e até reverter quadros homossexuais. Ao perceber o fracasso total das terapias de “cura”, em 1973, a Associação Psiquiátrica Americana achou melhor retirar da sua lista de distúrbios mentais a atração sexual por pessoas do mesmo sexo. Foi quando o termo mudou de nome: homossexualismo deu lugar a homossexualidade. 

Em 1991 surgiu a primeira teoria sobre uma possível causa biológica, o hipotálamo menor. O neurocientista Simon LeVay descobriu que essa zona-chave da sexualidade no cérebro era entre 2 e 3 vezes menor nos gays. Porém o estudo esbarrou em várias críticas, pois a pesquisa se deu em cadáveres de homossexuais que morreram em decorrência da AIDS, e o tamanho reduzido do hipotálamo poderia ser causado pela doença. Mesmo que não fosse seria impossível determinar que essa seria a causa da preferência pelo mesmo sexo.

Hoje em dia uma pesquisa bastante adiantada é a que trata dos marcadores epigenéticos (MEs), vou explicar. Os MEs são como “nuvens de proteínas” que tem como função ligar e desligar certos genes. Pensem que cada célula do nosso corpo possuem os mesmo genes, por exemplo, as células do pâncreas possuem os genes responsáveis pela produção de insulina, porém as células do coração também os possui, então tais genes são ativados nas células do pâncreas pelos MEs para que elas produzam insulina, e desativadas nas células do coração também pelo MEs para que essas não produzam. Assim, a ação dos MEs passa a ser quase tão importante quanto as dos próprios genes.

Até pouco tempo atrás acreditava-se que os Mes não eram passados de pais para filhos, mas hoje sabe-se que em alguns casos eles são sim repassados aos descendentes, o que pode ser um problema, vejamos um deles: em situações de fome intensa, por exemplo, os MEs podem ativar genes que potencializem o aproveitamento da pouca comida que é ingerida. Se esses MEs passam para o filho, os genes deste também serão ativados de forma que uma dieta normal poderá gerar um quadro de obesidade (no filho), já que os genes ativados pelos MEs paternos continuarão passando a instrução de aproveitar ao máximo cada grama de alimento ingerido.

Tal processo poderia estar ligado a preferência sexual. O embrião cria MEs que o protege de possíveis variações dos níveis de testosterona da mãe, já que altos níveis de testosterona durante a gravidez podem masculinizar embriões femininos, e baixos níveis de testosterona feminizar embriões masculinos. Sendo assim, se MEs do pai ou da mãe fossem transferidos ao embrião em formação, os paternos “masculinizantes” seriam ativados na filha, ou no caso oposto, os da mãe ativariam no filho genes feminizantes.  

HOMOSSEXUALIDADE NA NATUREZA

Sempre ouvimos que a homossexualidade existe desde que o homem surgiu na Terra, mas ela pode ter surgido bem antes disso, já que inúmeras espécies de animais “praticam” a homossexualidade, como os Albatrozes de Laysan, Golfinhos nariz-de-garrafa, Bonobos, Galo-da-serra peruano, Leões africanos, Pinguins, Girafas, Libélulas, entre outras.

Vamos nos concentrar em um dos exemplos, os Golfinhos nariz-de-garrafa, que estão entre os animais mais inteligentes da natureza, com capacidades cognitivas e sociais comparáveis aos chipanzés e humanos.

Já foram identificadas várias relações homossexuais e bissexuais na sociedade destes animais, sendo que em um dos casos um casal de golfinhos homossexual manteve um relacionamento por inacreditáveis 17 anos. Para os cientistas, tais relacionamentos servem para manter o grupo unido e evitar conflitos internos.

Os golfinhos não “pensam” assim: acho que vou ter uma relação homossexual com aquele outro golfinho para que ele não brigue comigo. Tal comportamento se trata de um extinto de sobrevivência, pois o grupo unido é capaz de se defender de possíveis predadores. Todos nós sabemos que os instintos são passados dos pais para os filhos, cada extinto de cada espécies está em seus genes, portanto essa é mais uma evidência de uma causa biológica da homossexualidade.

De qualquer forma penso que o caráter da pessoa é muito mais importante do que a preferência sexual. Acho muito injusto dizer que o homossexual é uma pessoa pecadora, pois imaginem um garoto que nasceu homossexual, com seus 4 ou 5 anos de idade, que possui trejeitos femininos, na sua mais pura inocência, poderia ser condenado ao fogo eterno? O homossexual tem que entender que Deus não tem nada haver com esse discúrso ridículo, ele te ama sim, e para ele o que conta é o ser humano que você é, e não se você se relaciona com alguém do mesmo sexo. 

O homossexual é um ser humano como outro qualquer, com direitos e deveres, qualidades e defeitos, amores e dissabores, que merecem a felicidade e sobretudo o respeito.

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