Entra
ano e sai ano o brasileiro tem que conviver com a epidemia da Dengue, uma
doença que afeta milhares de pessoas em nosso país. Tal doença é fruto de uma
parceria de sucesso para os seus integrantes, porém com resultados terríveis
para as sua vítimas, Aedes egypti e
vírus da dengue, que juntos são o tormento da saúde pública brasileira.
AEDES
AEGYPTI
Vamos
começar falando do vetor da doença, um mosquito da
família Culicidae proveniente de África
e atualmente distribuído por quase todo o mundo, o mosquito-da-dengue ou pernilongo-rajado.
A
nomenclatura taxonômica dele é Aedes (Stegomyia) aegypti (aēdēs do grego "odioso" e ægypti do latim "do Egipto"). Ele é
originário do Egito, sendo que a sua dispersão pelo mundo ocorreu da África:
primeiro da costa leste do continente para as Américas, depois da costa oeste
para a Ásia. Não se sabe ao certo como ele chegou em nosso país, mas as teorias
mais aceitas indicam que o A. aegypti tenha se disseminado da África
para o Brasil através de embarcações que aportaram em nossos portos para o
tráfico de escravos, e daqui ele se espalhou por praticamente todo o Continente
Americano. Há relatos de navios negreiros onde toda a tripulação foi vitimada
pela dengue, e os navios ficaram vagando a deriva pelo Oceano Atlântico.
Ele é um mosquito que se encontra ativo e pica
preferencialmente nas primeiras horas da manhã e ao entardecer. O Aedes aegypti tem como vítima preferencial o homem e
não faz praticamente nenhum som audível antes de picar. Mede menos de 1
centímetro; é preto com manchas brancas no corpo e nas pernas.
O seu controle é difícil, por ser muito versátil na escolha
dos criadouros onde deposita seus ovos, que são extremamente resistentes, podendo
sobreviver vários meses até que a chegada de água propicie a incubação. Uma vez
imersos, os ovos desenvolvem-se rapidamente em larvas, que dão origem às pupas, das quais surge o adulto. Como
em quase todos os outros mosquitos, somente as fêmeas se alimentam de sangue
para a maturação de seus ovos; os machos se alimentam apenas de substâncias
vegetais e açucaradas.
Fêmeas do mosquito Aedes aegypti têm maior atividade
locomotora quando estão infectadas pelo vírus da dengue. Em comparação com
fêmeas não infectadas, elas apresentaram aumento que varia de 10% a 50% na
atividade. A mudança de comportamento pode estar relacionada ao relógio
circadiano, como é chamado o mecanismo interno que controla os ritmos
biológicos com período de aproximadamente 24 horas.
No início do século 20, a identificação do A.
aegypti como
transmissor da febre amarela urbana impulsionou a execução de rígidas medidas
de controle que levaram, em 1955, à erradicação do mosquito no país. Em 1958, o
país foi considerado livre do vetor pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No
entanto, a erradicação não recobriu a totalidade do continente americano e o
vetor permaneceu em áreas como Venezuela, sul dos Estados Unidos, Guianas e
Suriname, além de toda a extensão insular que engloba Caribe e Cuba.
A hipótese mais provável para explicar a reintrodução do
mosquito no Brasil é a chamada dispersão passiva dos vetores, através de
deslocamentos humanos marítimos ou terrestres, dinâmica facilitada pela grande
resistência do ovo do vetor ao ressecamento. No Brasil, o relaxamento das
medidas de controle após a erradicação do A. aegypti permitiu sua reintrodução no
país no final da década de 1960. Hoje o mosquito é encontrado em todos os
Estados brasileiros.
É
fundamental conscientizar as pessoas de que combater o mosquito da dengue, além
de responsabilidade dos órgãos governamentais que deveriam encarregar-se do
saneamento básico, abastecimento de água e de campanhas educativas permanentes,
requer empenho de toda a sociedade, uma vez que o Aedes
aegypti pode
encontrar, em cada moradia e arredores, ambiente propício para sua
proliferação. Desse modo, algumas
medidas elementares podem ser tomadas individual e coletivamente para auxiliar
na sua erradicação, como: eliminar qualquer reservatório de água sem utilidade,
como colocar areia na vasilha que serve de base para vasos de plantas, e lavar
pelo menos uma vez por semana aqueles vasos onde a planta fica em contato
direto com a água; não deixar pneus em locais onde tenham contato com a água da
chuva; tampar e lavar periodicamente as caixas d`água; manter o nível de cloro
das piscinas sempre adequados; guardar garrafas vazias de cabeça para baixo e
em local onde elas não tenham contato com a chuva e jogar as tampinhas no lixo;
lavar periodicamente os bebedouros de animais; nos casos das plantas que
armazenam água entre suas folhas, em especial as bromélias, deve-se uma vez por
semana regá-las com uma solução de 1 litro de água misturada com uma colher de
água sanitária; manter os quintais limpos e os sacos de lixos sempre amarrados.
VÍRUS DA DENGUE
A origem do Vírus da Dengue é muito debatida,
porém a teoria mais aceita diz que a sua origem se deu em primatas não
humanos nas proximidades da península
da Malásia. O crescimento populacional aproximou as
habitações da região à selva e, assim, mosquitos transmitiram vírus ancestrais
de primatas a humanos que, após mutações, originaram os quatro diferentes tipos de vírus da
dengue atuais.
O vírus da dengue (DENV) pertence a
família Flaviviridae; gênero Flavivirus.
Entre outros membros do mesmo gênero estão os vírus da febre
amarela, da febre
do Nilo Ocidental, da encefalite de São Luís, encefalite
japonesa, da encefalite
transmitida por carrapatos, da doença da floresta de Kyasanur e da febre
hemorrágica de Omsk. A maioria deles são
transmitidos por artrópodes
(mosquitos ou carrapatos) e, portanto, também são conhecidos como arbovírus.
O genoma (material genético) do vírus da dengue contém cerca de
11 000 bases de nucleotídeos, que codificam três tipos diferentes de moléculas de proteínas (C, prM e
E) que formam a partícula
viral e sete outros tipos de moléculas de proteína (NS1, NS2a,
NS2b, NS3, NS4a, NS4B e NS5) que apenas são encontradas em células hospedeiras
infectadas e são necessárias para a replicação do vírus.
Existem quatro cepas do vírus, que são chamadas
de serotipos, as quais são referidas como DEN-1, DEN-2, DEN-3 e
DEN-4. As distinções entre os serotipos baseia-se na sua antigenicidade.
A PARCERIA LETAL
É preciso esclarecer que o Aedes
aegypti nem sempre é
o vilão da história, pois nem todos transmitem a doença, porque nem todos estão
infectados com o vírus da dengue. Para que a transmissão da doença aconteça, é
preciso que o vetor esteja infectado e infectivo, o que são
coisas diferentes.
O mosquito fêmea se torna infectado quando suga o sangue de alguém doente,
no curto período em que esta pessoa tem várias partículas do vírus circulando
em seu sangue. Neste momento o mosquito terá o vírus em seu “estômago”, mas
ainda não é capaz de transmiti-lo. Entre 10 e 12 dias depois, as partículas do
vírus dengue se disseminam pelo organismo do A. aegypti, se multiplicam
e invadem suas glândulas salivares: neste momento, o mosquito fêmea se torna infectivo
e, somente a partir daí, poderá transmitir o vírus
a outra pessoa.
Ao mesmo tempo em que pica para sugar o sangue, o
Aedes cospe saliva, que tem uma série de substâncias analgésicas e
anticoagulantes, que o ajudam a não ser notado e a conseguir sugar o maior
volume possível de sangue. Neste processo, as partículas de vírus são injetadas
na corrente sanguínea da pessoa, junto com a saliva do mosquito.
Na prática, um percentual muito pequeno de A.
aegypti está
infectado com o vírus dengue. Em primeiro lugar porque nem todas as fêmeas
picam uma pessoa com o vírus dengue. Em segundo lugar, porque nem todos os
mosquitos que picam alguém com o vírus dengue conseguem sobreviver até o
momento em que se tornam infectivos e podem, então, começar a transmitir a
doença.