Ciência e fé é sempre um debate
bastante polêmico. Algumas pessoas sempre tendem a se colocarem em cada um dos
extremos, e nada nem ninguém é capaz de fazê-las refletir o mínimo que
seja.
Como professor de biologia já me
deparei com perguntas do tipo: já que você acredita na evolução, então me
explica por que os macacos não se transformam em humanos, já que viemos deles?
Ou: como pode você ser evolucionista e cristão ao mesmo tempo?
Um dos grandes problemas é que tanto as pessoas que frequentam os
cultos e as missas, como aqueles que se dizem ateus são igualmente
influenciados pelo que os religiosos dizem. Os crentes acreditam em Deus devido
a pregação, e os ateus não acreditam devido também a pregação.
As pessoas precisam entender que
Deus não pertence a nenhuma religião ou a nenhum livro que queiram que você
leia. Crer em Deus transcende as paredes de tijolos dos templos e as várias
doutrinas que insistem em nos mostrar um ser supremo cheio de vaidades, que
mata os seus filhos por não o adorarem.
A CIÊNCIA E A FÉ
Nos primórdios da humanidade a
ciência e a fé caminhavam lado a lado, já que os cientistas antigos procuravam
Deus tentando entender e desvendar os mistérios da natureza. Com o passar do
tempo, e o surgimento da Igreja Católica, a ciência virou um monopólio de tal
instituição religiosa. Seus dógmas não podiam ser colocados à prova, e qualquer
cientista que ousasse contestar a “ciência católica” poderia ser condenado a
morte.
A partir do surgimento do
renascimento, a ciência começou a se desvencilhar de vez da religião, havendo
rompimentos com a Teologia Católica e nascendo assim o Iluminismo. No século
XIX a ciência se libertou totalmente do fundamentalismo cristão, e assim pode
se desenvolver plenamente, surgindo uma infinidade de cientistas que,
rancorosos pelo autoritarismo da Igreja, começaram a pregar a não existência de
Deus.
GALILEU GALILEI
O gigante cientista da humanidade, após aperfeiçoar o telescópio, começou a observar o infinito, e assim ele concluiu que várias teorias da igreja estavam erradas, como a que dizia que tudo que existia fora do nosso planeta era plano e liso; Galileu descobriu várias montanhas na lua. Além disso, e mais crítica ainda, eram as provas que ele tinha de que a Terra não era o centro do universo, ela girava em torno do sol.
Galileu Galilei |
Pesando a seu favor estava o fato
de que o Papa Urbano VIII era um profundo admirador da ciência, e incentivou
Galileu a escrever um livro explicando
as duas teorias, a de que a Terra era o
centro do universo e a de que ela girava em torno do sol. Assim surgiu o livro Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo, um diálogo entre três
personagens: Salviati (que defende o heliocentrismo), Simplício (que defende o
geocentrismo, se mostrando meio ignorante em relação à astronomia), e Sagredo
(um personagem neutro, mas que termina por concordar com Salviati).
O Papa foi convencido de que o
personagem Simplício o representava, e assim, o Sumo Pontífice retirou o seu
apoio a Galileu, e ele foi julgado pelo Tribunal da Inquisição, onde ele teve
que renegar todo o seu estudo, todas as sua provas científicas, para que ao
invés de ser condenado a morte a pena fosse comutata a prisão perpétua
domiciliar. Dizem que após a sua fala, onde ele foi obrigado a reconhecer que
estava errado, Galileu murmurou: “mas ela se move”.
HÁ ESPAÇO PARA A
CIÊNCIA E A FÉ CAMINHAREM JUNTAS?
Na bíblia há um exemplo bastante
claro onde a ciência e a fé podem caminhar lado a lado. Se analisarmos a
história dos três reis magos entenderemos melhor. Se eles existiram realmente
nós ainda não sabemos, porém, se você visitar a catedral de Colônia, na
Alemanha, será informado de que ali repousam os restos dos reis. De acordo com
uma tradição medieval, os magos teriam se reencontrado quase 50 anos depois do
primeiro Natal, em Sewa, uma cidade da Turquia, onde viriam a falecer. Mais
tarde seus corpos teriam sido levados para Milão, na Itália, onde permaneceram
até o século 12, quando o imperador germânico Frederico dominou a cidade e
trasladou as urnas mortuárias para Colônia.
No Evangelho de Mateus, nos 12
versículos em que o assunto é abordado, a narrativa nos conta que eles seguiram
a estrela de Belém até o local do nascimento do homem que mudaria profundamente
os rumos da humanidade, Jesus Cristo. Os reis magos eram, na verdade, líderes
religiosos e astrônomos. Foi através das suas observações do céu que eles
conseguiram determinar a trajetória da estrela, que na verdade era um cometa, e
assim, conseguiram chegar ao local do nascimento. Esta aí, um belo exemplo da
ciência levando os homens até o Divino.
Os três reis magos |
Um outro ponto crítico é o que
diz respeito a criação do universo, da Terra e o surgimento da vida em nosso
planeta. A religião é defensora do Criacionismo, teoria que diz que todos os
seres vivos surgiram independente uns dos outros e da forma como os conhecemos
hoje. Para tal é usado o que está escrito na Gênesis, livro que compõe a
Bíblia. Já a ciência diz que tudo teve origem em uma explosão chamada Big Bang,
e que depois de bilhões de anos as formas de vida foram evoluindo uma das
outras. Mas mesmo diante de tal “disputa”, se abandonarmos os preconceitos e o
radicalismo podemos desfazer tal entrave. Vou demonstrar:
Religião - No princípio Deus criou o céu e a Terra, assim como a luz, e fez a
separação entre a luz e as trevas. (1º dia). Deus criou uma expansão no meio
das águas, e fez a separação entre as águas. (2º dia). Deus juntou as água em
um só lugar, surgindo a parte seca. Após isso Deus fez com que germinassem as
plantas. (3º dia). Deus criou o sol e a lua e os colocou no céu. (4º dia). Deus
criou nas águas as primeiras formas de vida, e povoou o céus com aves. (5º
dia). Por fim Deus criou uma infinidade de seres vivos na face do planeta, e,
posteriormente, criou o homem a sua imagem e semelhança. (6º dia).
Ciência - Depois do Big Bang houve o surgimento do universo (céu), e após 7
bilhões de anos surgiu a Terra. Depois da estabilização da nossa atmosfera os
raios de sol começaram a irradiar o calor e a luz assim como os conhecemos.
Assim, o dia e a noite tiveram uma clara definição. (1º dia). Com o surgimento
da água na superfície do planeta teve origem um imenso continente chamado
Pangéia. (2º dia). Com o tempo, através dos movimentos das placas tectônicas, o
imenso continente começou a se separar, dando origem aos continentes que
conhecemos hoje. Após a vida ter surgido nos oceanos, as plantas foram os
primeiros seres vivos a colonizar a parte terrestre do planeta. (3º dia). Após
a colonização da terra pelas plantas, e a liberação de oxigênio, houve a
completa estabilização da atmosfera, sendo possível, enfim, observar, caso
houvesse alguém aqui na época, as estrelas, o sol e a lua assim como observamos
hoje. (4º dia). Foi nas águas que teve origem a evolução, sendo as espécies
marinhas as primeiras a se desenvolverem plenamente. Com o passar do tempo
algumas dessas espécies migraram para a terra firme. (5º dia). Após a migração
de algumas espécies marinhas para a terra houve uma explosão de novas formas de
vida, que foram tendo origem através de inúmeros processos evolutivos. Só
depois, a muito pouco tempo, cerca de 200 mil anos, é que surgiu o homem no
planeta. (6º dia).
Pois bem meus amigos, vocês
conseguiram perceber que ambas as teorias são muito parecidas, em alguns
momento idênticas, porém escritas de uma maneira diferente? Fica claro que
aqueles homens que escreveram A Gênesis a milhares de anos tiveram uma
revelação de como tudo aconteceu, porém tal revelação foi dada a eles de uma
maneira que eles pudessem entender na época, e eles a escreveram como a
entendiam. O problema é que muitos religiosos ainda enxergam o mundo através
dos olhos daqueles homens que viveram há milhares de anos. Muito provavelmente
1 dia descrito na Gênesis quer dizer milhares ou milhões de anos.
Sendo assim, eu posso dizer que
há espaço na vida de uma pessoa para a ciência e a fé, desde que haja uma
libertação de todos os preconceitos, pois é errado ler um artigo científico e
começar a deixar a fé de lado, ou ler alguma passagem da bíblia e começar a
desacreditar a ciência. Eu acredito na ciência, na evolução das espécies e tudo
mais, porém, isso não me faz deixar de ter a minha fé em Deus que, para mim, é
o criador da vida, pois acho meio improvável que as condições favoráveis a ela
tenham surgido em nosso pequeno planeta devido a algum evento cósmico
aleatório.
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